Entrevista Adrian Smith
- adrianfredericksmithfas
- 21 de jan. de 2016
- 10 min de leitura
Valerie Potter entrevista ADRIAN SMITH (Revista 100 IMFC)
Tradução: Michelle.

No passado, você me disse que quando o Iron Maiden começa a escrever um novo álbum, você costuma sentar com o Bruce ou Steve, passar com eles as ideias que você tem e decidir em quais delas trabalhar. No entanto, de acordo com o press release do The Book of Souls, pareceu que o trabalho de composição foi feito no estúdio, dessa vez.
Sim, mas eu ainda fiz minha parte antes. Eu passei duas semanas no verão (de 2014) no meu estúdio e eu acho que eu tinha cerca de doze ideias para músicas naquela altura. Eu tinha em mente que desta vez tinha que tentar escrever músicas mais curtas. Porque, de volta no tempo, nós fizemos ‘Two Minutes to Midnight’ e ‘Can I Play With Madness?’ e coisas assim, então eu pensei que nós devíamos fazer algo diferente. Eu me lembrei que, da primeira vez que Bruce se juntou ao Maiden, nos anos 80, ele e eu costumávamos escrever juntos, então eu pensei em tentar fazer isso de novo. Então Bruce veio até minha casa, com seu piano elétrico – ele agora tem um pequeno piano no qual ele compõe!
Eu tinha a melodia para uma música chamada ‘Speed of Light’, e eu também tinha o título, e eu achava que era bem forte; quando eu visualizava, eu conseguia ouvi-lo cantando! Ele pegou isso e começou a escrever a letra, e então tínhamos aquela música pronta.
Ele tocou para mim uma parte da primeira versão de ‘Empire of the Clouds’ em seu piano e começamos a brincar com aquela parte, mas não fizemos nada com ela. Eu toquei pra ele outra música, que se tornou ‘Death or Glory’, que é outra música curta e pesada, então, tínhamos duas músicas prontas, apenas naquela tarde; ele ainda tinha que terminar as letras, então tivemos isso para terminar no estúdio.
Mas sim, houveram algumas poucas coisas que nós escrevemos no estúdio e que foi realmente de primeira, porque estávamos todos tocando na mesma sala, juntos – não ficamos separados -, então tinha muito contato visual, então, mesmo que não estivéssemos 100% certos sobre uma música, nós podíamos seguir em frente com ela. Kevin gravava absolutamente tudo, e dizia: ‘Essa foi uma boa tomada’, ou ‘Tentem aquela outra vez’, então tudo foi muito espontâneo.
Como vocês conseguiram definir quem compôs as músicas, se estavam todos criando as músicas juntos? Ou os créditos foram apenas para as pessoas que surgiram com as ideias principais?
Bem, não, não é bem assim. Quem quer que tenha trazido a música irá sentar e geralmente Steve vai meio que fazer os arranjos – bem, não em todas, mas na maioria delas. Tem uma música, chamada ‘The Great Unknown’, onde eu basicamente tinha a música e o Steve escreveu a letra, então nos sentamos no estúdio de manhã, apenas nós dois, e a passavamos, para ter certeza de que estávamos contentes com os arranjos, e então chamavamos os outros caras, e a passavamos de novo – Nicko ficava lá, sentado, batucando em seus joelhos – e então decidiríamos. E assim que tentássemos, do modo que eu chamo , ‘com raiva’, com todos os amplificadores ligados, Kevin iria gravar na mesma hora, e às vezes isso era apenas a primeira tomada, e não estava perfeita, mas podíamos melhorar um pouco – e foi mais ou menos como nós trabalhamos. Steve obviamente se envolveu em tudo – ele gosta de guiar o navio – então, se Dave ou Janick tivessem uma música, eles fariam a mesma coisa, sentar de manhã, e então iríamos um pouco mais tarde e apenas finalizaríamos.
Mesmo se eu não tivesse lido os créditos, eu saberia que o Steve escreveu a letra de ‘The Great Unknown’, porque tem aquela aura mística, misteriosa, que ele adora. No entanto, outra música que você compôs com ele, ‘When The Rivers Run Deep’, é mais um rock galopante.
Sim. De novo, eu meio que já tinha a música – já estava praticamente pronta – e Steve tinha o título e as melodias. Ele parece estar mais fazendo isso ultimamente – colaborando e mais interessado nas letras e melodias. Ele tem feito isso por alguns anos. Ele geralmente trazia a música pronta, antigamente, ele costumava trazer três a quatro músicas já prontas, do começo ao fim. Hoje em dia temos tido mais liberdade, e isso é mais fácil.
E a terceira música que você escreveu com Steve, ‘Tears of a Clown’, é a música mais curta do álbum, com a duração de meros 4 minutos e 59 segundos!
É mesmo? Engraçado, porque já tínhamos acabado de gravar. Nós devíamos trabalhar numa outra música que Steve e eu tínhamos escrito, e o Steve disse: ‘Bem, já temos material suficiente agora’, e eu disse ‘É, talvez você esteja certo...” Mas aí eu tive uma ideia musicalmente e disse a ele: ‘O que você acha disso?’. Eu mandei a ele uma demo e ele começou a ter ideias, e disse, ‘Bem, vamos fazer essa música e ver como fica’, então aquela foi a última música que fizemos. Foi meio na pressa, mas, você sabe – que se dane!
E acabou não se parecendo em nada com o sucesso de Smokey Robinson, Tears of a Clown, de 1970.
Sim. Quando Steve disse ‘Tears of a Clown’, nós meio que nos entreolhamos e dissemos, ‘sério mesmo?’, mas a música sugeria algo triste e introspectivo, então isso obviamente tinha algum significado pra ele.
A primeira coisa que reparei quando ouvi ‘The Book of Souls’ foi na profundidade e no calor de suas músicas, e mesmo que vocês tenham gravado em Paris, eu não tinha percebido que vocês voltaram ao Guillaume Tell Studios, onde vocês gravaram ‘Brave New World’. Aí tudo fez sentido, já que o álbum tem a mesma qualidade sonora...
Você tem toda razão. E é interessante você dizer que não sabia aonde tínhamos gravado... é engraçado – mesmo com todo o equipamento digital chique que é usado nas gravações hoje em dia, a sala de gravação ainda é muito importante e, assim que chegamos lá, nós nos sentimos muito felizes e em casa. É um estúdio antigo e adorável, e não mudou nada – ainda havia o mesmo carpete na sala de gravação, aonde seu pé prende um pouco no chão! É uma sala ótima e um ambiente muito criativo, então estávamos muito felizes por estar lá. Com muita frequência, quando fazemos um álbum novo, eu realmente não consigo ouvi-lo, às vezes por muito tempo – tipo um ano -, mas este, eu realmente gostei deste! ‘Brave New World’ foi um dos álbuns com melhor sonoridade que fizemos e eu acho que muito disso se deve ao estúdio.
Voltar ao estúdio trouxe de volta memórias das gravações de ‘Brave New World’, quando você e Bruce haviam acabado de voltar à banda?
Um pouco, sim... uma das coisas chocantes, que eu realmente não tinha pensado até eu chegar lá, foi que haviam se passado quase 15 anos desde que gravamos ‘Brave New World’ e que fizemos tanta coisa nesse período de tempo, e ainda assim, parece que foi ontem. É assustador! É engraçado, em certos pontos, gravando este álbum, nós olhávamos uns para os outros quando estávamos ouvindo alguma coisa; tem uma frase em uma das músicas que diz ‘sea of madness’, e houveram outros momentos assim, o que foi legal. Tem pequenos pontos de referência ao passado nesse álbum, se você ouvir com atenção, então vai ver que tem uma conexão.
Você acha que o fato de terem começado a trabalhar no álbum alguns meses após terem terminado a turnê Maiden England e terem estado imersos naquelas músicas clássicas do Maiden teve um efeito nas gravações?
Bem, você ainda está cheio de energia após uma turnê, então isso definitivamente afeta a composição. A energia das plateias e a energia da turnê e o modo como você se sente... porque também não foi uma turnê extremamente longa, no ano passado, então ainda estávamos bem descansados, e eu acho que isso se refletiu nas composições, definitivamente. Em outro álbum que gravamos – não me lembro qual deles -, procurando por inspiração, eu assisti ‘Live After Death’, que eu não assistia por muitos anos, e isso me deu um pouco de energia. Definitivamente, fazer um álbum logo após uma turnê é excelente, desde que não seja uma turnê de seis meses de duração, porque neste caso você está esgotado; mas uma turnê de seis semanas é perfeito. Eu acho que teve um efeito benéfico no álbum, porque todo mundo veio para o estúdio cheio de energia!
Depois de trabalhar com o Iron Maiden desde ‘Brave New World’, Kevin Shirley é agora parte permanente do processo de gravação, certo? Ele realmente captura muito bem a sonoridade do Maiden!
Seu método é muito simples: ele é um ótimo engenheiro e ele captura nosso som. Ele não vai te fazer soar melhor do que você realmente soa, se você me entende... ou pior – você soa como realmente soa. Às vezes eu dizia a ele, ‘Mas eu quero soar melhor do que isso!’ (risos). Mas ele não tem tempo para isso. Como eu disse no passado, às vezes eu achava o som muito cru ou gostaria de passar mais tempo em alguma certa parte, mas, neste álbum, com a vibração do estúdio e a energia e tudo mais, é como eu disse, posso ouvir o álbum e gostar dele, então sim, Kevin é parte permanente disso. O primeiro álbum (que fizemos com ele) não foi fácil, eu posso te dizer! Porque estávamos trabalhando com alguém diferente. Ele pode ser meio teimoso às vezes. Eu levei um tempo para me acostumar com isso – mas ele é muito, muito direto e isso pode ser algo muito forte.
Em qual ponto vocês decidiram que ‘The Book of Souls’ seria um álbum duplo?
Eu acho que quando Bruce estava trabalhando em ‘Empire of Clouds’. Ele estava trabalhando nela por décadas. No primeiro mês que estivemos no estúdio, ele ficava num canto, trancado – literalmente trancado – em uma cabine à prova de som, com um piano, apenas trabalhando nessa música, manhã, tarde e noite. Se tornou meio que uma obsessão – mas que obra prima acabou se tornando! Eu acho que quando percebemos que iriamos gravá-la e que teria a duração de 18 minutos, e Steve tinha trazido uma música chamada ‘The Red and the Black’, que tem quase 14 minutos, isso meio que definiu as coisas. Então ia ser um álbum duplo! Nos dias de hoje, onde as pessoas estão apenas baixando músicas e todos fazem músicas curtas e grudentas, nós estamos trazendo de volta os álbuns em grande estilo.
Então vocês tinham o álbum pronto e a turnê em 2015 agendada, mas tiveram que barrar tudo quando Bruce foi diagnosticado com câncer.
A última coisa que eu estava pensando eram nos planos para o ano, porque eu estava absolutamente chocado, como todo mundo. Pessoalmente, Bruce é um cara tão forte, tanto física quanto mentalmente, que você simplesmente não consegue imagina-lo sucumbindo a algo assim, e nem por um momento eu achei que ele fosse, honestamente, e isso não era apenas pensamento positivo; eu sentia dentro de mim, não conseguia imagina-lo sendo vencido por nada. Eu acho que todos tentamos nos manter positivos sobre isso o tempo todo. Nós nem pensamos em... eu nem conseguia me forçar a perguntar a ele se suas cordas vocais estavam boas, mas, aparentemente, isso não afetou suas cordas vocais.
Estou feliz em poder dizer que ele está bem agora, e estamos ansiosos pela próxima turnê. Eu falei com ele no outro dia, ele em estado descansando, cantando um pouquinho em casa. Ele ainda tem um longo caminho a percorrer, mas a sua voz ainda está lá. E eu acho que provavelmente o fato de ele ter escrito uma canção tão incrível e por estar tão orgulhoso do álbum, tenho certeza que isso lhe deu uma motivação extra durante seu tratamento.
O que você fez durante esse período do ano?
Eu basicamente não fiz nada, realmente, apenas descansei em casa, mas quando eu paro pra pensar nisso, eu passei tanto tempo da minha vida correndo pelo mundo, subindo e descendo de aviões, entrando e saindo de hotéis, quer dizer, você tem que aproveitar o seu tempo livre o máximo que puder. Eu sinto falta de tocar ao vivo, no entanto.
Você tem escrito ou gravado alguma coisa com Mikee Goodman, em seu projeto solo, Primal Rock Rebellion?
Não. Eu andei investindo minha energia na banda do meu filho, The Wild Lies. Eles estão se saindo muito bem e o Mikee está fazendo o vídeo deles. Ele tem feito muitos vídeos recentemente. Eu o vejo de vez em quando, ele é um bom amigo, mora perto e temos conversado sobre escrever algumas coisa, mas, como eu disse, eu não tenho estado inclinado a fazer mais nada.
O cenário musical para bandas de rock é muito diferente hoje em dia do que era quando o Maiden começou, com o advento dos downloads, etc, e o fato de que muitos pubs e clubes onde vocês costumavam tocar hoje em dia estão fechados. Com as coisas sendo tão diferentes, você consegue dar conselhos para seu filho?
Sim. Ele realmente gosta de música e a banda é ótima, na minha opinião. Eu não os encorajaria se não achasse que eram bons e é ótimo poder ser capaz de aconselhá-los. Apesar de todas as diferenças, downloads e tecnologia e ferramentas, quando eu vou assistir os ensaios deles, ainda é a mesma sensação; é um grupo de caras se divertindo, muita brincadeira e apenas a excitação de estar fazendo música e pensar que, um dia, talvez você consiga ganhar a vida e fazer isso todo dia. Eu adoro eu ver isso, sabe. Você sempre quer ter algo em comum com seus filhos, quando fica mais velho, e você tende a seguir os passos de seus pai, não é? É a vida, e é realmente gratificante.
Seu penúltimo álbum de estúdio, ‘The Final Frontier’, foi o de maior sucesso do Maiden até então, sendo o número 1 em 28 países e lhes dando a posição mais alta das paradas dos Estados Unidos, como número 4. Você se sente sob pressão para seguir esse sucesso?
Deus! Eu não sinto isso, definitivamente. Talvez eu devesse sentir, eu não sei – talvez estejamos um pouco mimados! Mas como eu disse para alguém, hoje, mais cedo, nós construímos nossa sequência do modo mais difícil e realmente temos uma grande base de fãs. Nos anos 80, nós fizemos muitas turnês e, mesmo depois de eu ter voltado para a banda, nós temos saído em turnê por seis ou oito meses por ano, alguns anos atrás. Quando eu olho para o mapa da América, eu fico maravilhado ao ver que já estivemos em todos os lugares e em algumas cidades eu toquei em várias ocasiões, em qualquer clima que você possa imaginar. Nós costumávamos fazer turnês no inverno, quando estava congelando, e fizemos algumas no verão, então quando digo que estamos um pouco mimados, nós trabalhamos duro para estabelecer nossa trajetória. É um sentimento gostoso o de tocar para os fãs, que estão alegremente esperando para ver o que vamos fazer na sequência. É um privilégio, pra falar a verdade.
Comentarios